quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Entrevista com Alexandre Raposo - Presidente da Record

Esta é uma entrevista com Alexandre Raposo, Presidente da Rede Record de Televisão, que achei bastante esclarecedora. Muitos criticam a emissora do Edir Macedo, mas esquecem que a Globo tem muitos defeitos que a maioria não ousa mencionar pois prefere não assistir a uma rede de tv patrocinada por uma igreja evangélica por achar isso errado. Claro que não é. Discordo dessas pessoas. Agora, leia trechos da entrevista que foi realizada em 26 de Julho pelo site Bahia Notícias:

Por Daniel Pinto

Bahia Notícias - A Record estabeleceu uma meta para se tornar a maior e mais influente rede de TV do Brasil. O que está sendo feito para alcançar esse objetivo e em quanto tempo esse “sonho” pode se tornar realidade?

Alexandre Raposo - Temos uma história de 19 anos com essa nova gestão. A Record era uma emissora local de São Paulo. A partir do momento que Edir Macedo adquiriu, ela foi transformada e tomou todo o território nacional. Hoje, fomos além e saímos dos limites do Brasil e já atingimos 150 países. Quando a Record se espalhou pelo país nós podemos construir uma grade competitiva. Para isso, foi necessário treinamento, investimento em infra-estrutura e a contratação de grandes profissionais. Nasceu uma grade focada no pensamento popular. A Record inovou, por exemplo, com o Hoje em Dia e com um jornalismo mais descontraído, onde os apresentadores não são engessados e podem conversar um com o outro. Somos a TV com o maior número de reality shows no Brasil. Entretanto, o mais importante é estar próximo das pessoas, da família. A Record tem uma grande preocupação com o ser humano.

BN - Raposo, você não falou nada sobre o prazo para atingir a liderança.

AR - Imagino que entre cinco e 10 anos. É difícil definir um prazo quando você depende de um terceiro elemento, que é o espectador. Houve uma época no Brasil em que havia uma unanimidade. Existia apenas um veículo. Hoje, essa empresa detém apenas 45% da audiência. O que significa dizer que 55% dos brasileiros, a maioria da população, fez outra escolha. Isso demonstra que há uma curva de mudança.

BN - Como a crise mundial afetou a vida financeira e administrativa da Record?

AR - Temos um projeto de reinvestimento contínuo. Quando assumi a emissora, o dono me disse: “eu acredito muito no Brasil, acredito no meu povo. E não quero lucro na Record. Quero investir todo o lucro na própria empresa”.

BN - Uma decisão ousada, mostra desprendimento.

AR - Ele (Edir Macedo) não vive disso. Ele é autor, escritor, pregador. Ele não vive da televisão. Foi uma decisão ousada e fundamental para o desenvolvimento da emissora. Essa foi a razão pela qual conseguimos elevar a Record a outro patamar. Com a segurança do investimento total foi possível desenvolver um projeto de longo prazo.

BN - E o plano de enfretamento à crise?

AR - E então, o que nós fizemos? Este ano nós reduzimos em 90% a taxa de lucro para garantir a manutenção dos empregos. Se nós trabalhássemos com a margem de lucro do ano passado, ainda que ele seja revestido, talvez no primeiro trimestre tivéssemos demissões. Era tudo que não queríamos. Realmente o primeiro trimestre não foi nada primoroso. Crescemos, mas com taxas inferiores as do ano passado. Agora, que a crise começa a se enfraquecer, conseguimos manter um crescimento muito interessante. No planejamento, nós focamos na valorização do pessoal. Qualquer demissão gera uma reação em cadeia que interfere diretamente na economia do país. A Record se preocupou em manter os empregos com o objetivo de ajudar o país e manter o ciclo econômico ativo.

BN - Falando em investimento, verdade que o recém contratado apresentador Gugu Liberato vai ganhar R$ 3 milhões por mês? De onde vai sair essa receita?

AR - É, então, antes de te responder essa pergunta tenho que lhe dizer algo importante já que você usou a palavra chave “contratação”. Certa vez encontrei um ator do Rio de Janeiro e ele disse que estava desempregado. Ele me disse que trabalhou muitos anos numa emissora importante e que não tinha mais espaço porque estava um pouco velho. Então, falei para ele sobre o projeto da Record e logo em seguida ele veio trabalhar conosco. Depois disso, nós acabamos contratando 70 ou 80 atores que não tinham contrato de longo prazo com essa mesma emissora. Isso gerou uma concorrência no mercado e as oportunidades começaram a surgir. Além disso, também demos oportunidade para que todos pudessem crescer junto conosco. Só pra citar um exemplo, Brito Júnior que era um jornalista virou um apresentador. Ah! Celso Freitas que estava num canal fechado, passou a ancorar o principal jornal da Record.

BN - E o que você me diz sobre Gugu?

AR - Um grande apresentador!

BN - E quanto aos R$ 3 milhões?

AR - Esse quesito é interessante. A remuneração poderá realmente chegar até esse patamar.

BN - De onde vem essa receita?

AR - Vem do mercado! A expectativa é de que o programa fature até R$ 12 milhões. Uma parte dessa remuneração vem direto do cliente. Todo mundo sabe que Gugu foi o apresentador que mais fez ações de merchandising na televisão brasileira. Só o cachê garante uma remuneração bastante interessante. Além disso, ele tem um vencimento fixo e outro variável por audiência. Ele pode chegar até os R$ 3 milhões, que é um número inferior ao pago para alguns apresentadores pela nossa principal concorrente.

BN - Não posso deixar de falar na relação da Igreja Universal do Reino de Deus com a emissora. Até que ponto os interesses da igreja interferem na programação da emissora? Também é verdade que os horários vendidos à IURD (principalmente na madrugada) estão bem acima do valor de mercado e que essa é a principal fonte de receita da Record?

AR - Qual o veículo que você trabalha?

Daniel Pinto - Bahia Notícias.

AR - Quanto o Bahia Notícias interfere em sua vida?

Daniel Pinto - Interfere bastante, até quando não estou trabalhando. Costumo dizer que sou jornalista em tempo integral.

AR - Mas, a empresa toma decisões por você?

Daniel Pinto - É quase impossível me desvincular do site, mas assim já é demais! (risos)

AR - Exatamente! É isso que acontece na Record! A igreja é um anunciante, como o Bradesco, BomPreço, Cesta do Povo, Casas Bahia e tantos outros também são. Eles interferem na grade? De maneira alguma! Eles só interferem na qualidade da programação. Se eu não entregar qualidade para o cliente ele vai embora. Portanto, buscamos a qualidade acima de tudo. O nosso principal concorrente vem ao longo dos anos tentando fomentar uma história mais ou menos assim: “olha, alguém usa uma igreja para financiar um veículo, isso é errado”. Esse discurso só interessa ao nosso principal concorrente. É óbvio que se a Record cresce, alguém deixa de crescer ou então diminui o seu espaço no mercado. Entre Record e IURD não existe uma relação diferente que não a de anunciante.

BN - E o bispo Edir Macedo?

AR - Existe um nexo causal de porque o fundador da igreja é o dono da Record. É aí que surgem todos esse boatos e teorias da conspiração. Você sabe que depois de nós nasceu um novo mercado anunciante no Brasil. A Igreja Universal anuncia na Record, como compra horário na Rede TV, o bispo R.R Soares tem programa na Band, o SBT também tem programas deste segmento. Então, nasceu o mercado evangélico. A Record teve a iniciativa de se atualizar. Na madrugada você tem um número de telespectadores bem reduzido. Surgiu a idéia das igrejas neo-petencostais em buscar esses aflitos. Nós nos antecipamos e vendemos o horário. Mas, você que é um cara inteligente, sabe que a Globo transmite a missa do padre Marcelo. Não sei se é vendido. Mas, a celebração é exibida para todo o Brasil. Então, nasceu o mercado.

BN - E quanto aos valores, Raposo, são realmente superfaturados?

AR - São valores de mercado, não tenha dúvida disso! Agora, nós temos algo que nenhum outro canal pode oferecer, que é a exclusividade e uma boa audiência. Só pra você ter idéia, o Fala que eu te escuto chega a ter 15 pontos de audiência.

BN - Mais do que o Vídeo Show.

AR - Quase isso (risos). Mas, a igreja nos paga um valor pela exclusividade. O que não significa dizer que os valores estão superfaturados ou acima do preço de mercado. O bacana dessa história toda é que você pega um horário que comercialmente não seria o melhor, acha um mercado e as igrejas que não são tributadas trazem esse recurso para a iniciativa privada e geram tributos para o governo e emprego para as pessoas.

BN - Esse segmento evangélico é a maior fonte de receita da Record?

AR - Não, não é! Apesar de ser um cliente muito importante, a nossa principal fonte de receita é o varejo. Os varejistas são os grandes anunciantes do Brasil.

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